“Brasília foi projetada para o automóvel.” Quem nunca ouviu essa afirmação? É fato que o automóvel teve destaque no projeto urbanístico de Brasília, mas e o pedestre, não teria sido contemplado?
Passear a pé por Brasília tem uma característica muito distinta das demais cidades brasileiras, ao menos nas Superquadras do Plano Piloto, local onde o pedestre tem ampla mobilidade devido aos pilotis livres das edificações residenciais. O chão é público e este não pode ser uma barreira ou obstrução à circulação dos pedestres, fato pelo qual o terreno dos edifícios residenciais são denominados projeção. Já pensaram o quanto este conceito é inovador para o urbanismo? Um térreo totalmente livre em todas as direções, um espaço destinado para vegetação, praças, calçadas e parques. Isso me lembra o desenho futurista dos Jetsons. Uma animação da Hanna Barbera produzido na década de 60, onde a cidade Orbity City estabelecia-se a muito metros acima do solo.
Mas voltando a nossa realidade, a cidade de Brasília possibilita um percurso muito interessante para os pedestres ao longo das Superquadras. Um passeio repleto de sensações e percepções. De um modo geral, a percepção do pedestre é diferenciada em relação ao motorista, o qual visualiza a cidade em alta velocidade e não consegue observar alguns detalhes. Ao caminhar pelas Superquadras é possível apreciar uma vegetação rica e variada. Diversas arvores nativas e frutíferas – previstas no plano inicial de Lucio Costa – preenchem os espaços não edificantes. Atualmente vários destes espaços, definidos pelas sombras das árvores e a sinuosidade das calçadas, estão sendo utilizados pelos brasilienses para encontros e atividades diversas.
Ainda sob a perspectiva do pedestre, é possível apreciar verdadeiras obras de arte, como painéis em azulejos sob as edificações, muito característicos, principalmente nas Superquadras da Asa Sul. Os edifícios também possuem destaque do ponto de vista arquitetônico, desde os blocos residenciais até edificações diferenciadas, como a Igreja Nossa Senhora de Fatima, projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer. A arte espalha-se pela cidade, possibilitando uma interação direta e coletiva com os usuários.
Na sociedade contemporânea, onde a mobilidade urbana é frequentemente tema de discussões e políticas urbanas tentam implantar o uso de transportes alternativos, temos nas Superquadras de Brasília a situação em que o pedestre pode usufruir de espaços realmente sustentáveis, caminhando de forma aprazível na direção que desejar.